sábado, 25 de abril de 2009

DANDO O TROCO

Gato folgado!

DANDO O TROCO

Já fazia tempo que eu vivia aborrecida com meu marido. Isto porque ele chegava tarde em casa e não levava a chave para que pudesse entrar quando bem entendesse. Não que voltasse de madrugada, isso não, mas sempre chegava depois das 10 horas da noite. E aquilo já estava me cansando, afinal, na época eu tinha três filhos pequenos, que estudavam pela manhã e precisava acordar cedo para despacha-los para o colégio. Mas meu marido parecia pouco estar se importando com o meu aborrecimento, e embora eu brigasse e soltasse umas cobras e lagartos,
acabávamos nos acertando na cama e a chave continuava sempre na porta da sala.
Eu colocava as crianças para dormir e ficava naquela espera enervante até ele chegar, e quando chegava era quase sempre uma briga pelos mesmos motivos, a demora e o medo que eu tinha de que algo pudesse lhe acontecer. Mas ele nem ligava... abusante!!! Gostava que eu ficasse esperando-o para esquentar-lhe o jantar, fazer-lhe um café fresquinho, e depois disso, já era meia noite. E ainda dizia que eu era ciumenta.
E eu respondia indignada:
--Eu ciumenta? Ora, qualquer dia você me paga!
Uma bela noite, eu não agüentei mais... Fechei a casa, liguei o ar condicionado (que fazia um barulho enorme) e fui dormir. Pensei comigo que se não escutasse ele bater, as crianças escutariam e abririam a porta para ele. E, no horário de sempre, ele chega. Bate aqui, bate ali e nada. As crianças com o sono pesado e o ar condicionado ligado, não o ouviram bater, ou se ouviram, não se incomodaram com quem quer que fosse que estivesse batendo àquela hora da noite. E eu, como estava disposta a castigá-lo, também não ouvi nada, estava dormindo o sono dos justos. E ele bateu nas portas e bateu nas janelas e nada de conseguir entrar.
Cansado e com medo que os vizinhos viessem ver o porquê daquela barulheira toda, ele desistiu. Cedinho, quando acordei, e abri a porta da sala, lá estava ele, sentado na cadeira de balanço na varanda, com uma cara mais azeda que limão, olhos inchados e todo dolorido, e eu, sorrindo de orelha à orelha, sequer me importei com o olhar atravessado que ganhei pelo resto da semana, mas a chave mudou de lugar. Até que enfim, tivera a coragem de aprontar também..
Doroni Hilgenberg

A CARTA DA FLORESTA

TENÓRIO TELLES

A CARTA DA FLORESTA
Os Escritores e demais participantes do Festival Internacional da Floresta- FLIFLORESTA, reunidos em Manaus, capital do Amazonas, de 17 a 22 de novembro de 2.008, elaboraram esta CARTA DA FLORESTA, que expressa sentimentos, preocupações e compromissos em relação ao presente a ao futuro da Amazônia e das suas populações.

A Amazônia pela sua complexidade e importância para o futuro da Terra, ocupa o centro das preocupações e debates sobre a vida no planeta. Estudá-la, compreendê-la e defendê-la da ação predatória de certos modelos de desenvolvimento é uma responsabilidade de todos os cidadãos que fazem a história da nação brasileira. É tarefa dos homens e mulheres comprometidos com a vida, com a construção de um mundo melhor e com a esperança. Daqueles que crêem na utopia e na realização do sonho de edificação de uma terra sem males.

Ciosos do significado que a pátria das águas , das florestas e da magia - a nossa Amazônia-tem para a continuidade da vida, afirmamos nosso compromisso de defendê-la e empreender esforços para promover iniciativas capazes de preservá-la como espaço vital do ser humano, dos bichos, das plantas, das águas, dos passarinhos. De todos os seres, inclusive os encantados. E por compreendermos que todos têm direito à vida, comprometemo-nos com a vida e os habitantes da terra de Ajuricaba - herói da Amazônia e personificação dos homens e mulheres de boa vontade que lutam por um futuro generoso, justo e melhor para todos.

1 - Que a Amazônia brasileira pertence ao povo brasileiro, que por meio de suas instituições, deve agir para protegê-la em benefício das suas populações e da humanidade;

2 - Que países amazônicos devem agir com precaução mútua, para proteger seus ecosistemas em benefício das suas populações e humanidade;

3 - Que as intervenções sociais, econômicas e políticas para a Amazônia, quando necessárias, partam das necessidades e valores das suas populações, e não de interesses que se superponham a essa peculiaridade;

4 - Que a Amazônia seja compreendida como múltiplos e complexos sistemas biológicos e culturais, cuja interdependência não pode ser negligenciada em prejuízo do ambiente e das suas populações.

5 - Que as decisões de políticas públicas e outras formas de interveção na natureza e no ambiente social, quando necessários, se efetivem por meio de diálogo entre conhecimento, tecnologia e os saberes tradicionais dos povos amazônicos;

6 - Que as culturas amazônicas, nas suas mais variadas manifestações de criatividade e saber, sejam sempre reconhecidas como produção intelectual indissociavel dos seus produtores indiviuais ou coletivos;

7 - Que se expresse o repúdio, de forma imediata e enérgica, a qualquer forma de preconceitos e de vontade de subjugar os povos da Amazônia;

8 - Que os governos dos países amazônicos empreendam ações conjuntamente para assegurar os deslocamentos culturais das populações tradicionais que vivem nas regiões fronteiriças, para que as suas terras tenham a legitimidade e a continuidade referendadas por suas tradições;

9 - Que os conflitos inerentes às cidades e o meio rural amazônicosejam mitigados pelo Poder Público e pela sociedade, para que não se transformem em risco à qualidade de vida humana e da natureza;

10 - Que a Amazônia represente e seja reconhecida sempre, como um grande gesto de amor por toda a Humanidade.

Presidente Figueiredo, Amazonas/Brasil/Terra: 19 de Nov. de 2.008

Esta carta foi lida por Tenório Telles em frente a Cachoeira da Onça, rodeado de água, árvores, seres da floresta e uma infinidade de seres humanos, que embevecidos e emocionados, assinaram esta carta manifesto, que após o termino do Flifloresta, será exposta ao mundo como um grande gesto de amor pela Amazônia e todo o ecossistema.

Colaboração de Doroni Hilgenberg
http://www.overmundo.com.br/overblog/flifloresta-carta-da-floresta

FLIFLORESTA - 2.008


FLIFLORESTA – Festival Literário Internacional da Floresta-2008


Em Manaus, no mês de novembro, ocorrerá um grande evento que promete mexer com o coração do povo da cidade e da floresta. O FLIFLORESTA, um festival que terá como referência a literatura, discussões e debates sobre o meio ambiente, com ênfase na defesa da Amazônia e também na formação e conscientização de novos leitores.
O FLIFLORESTA é uma realização do INVC- Instituto Nacional Valer de Cultura, CALL- Câmara Amazonense do Livro, Leitura e Parceiros, sob a coordenação de um grupo de intelectuais e profissionais liberais, unidos pelo compromisso com a promoção do livro, o estímulo à leitura e a valorização dos escritores amazonenses. Tem como meta, promover o intercâmbio entre os artistas da palavra da Amazônia e do Brasil, enriquecendo os debates com autores estrangeiros e favorecendo um diálogo crítico e construtivo.
A Programação será intensa, incluindo Simpósio em Presidente Figueiredo (A terra das Cachoeiras), que entre inúmeros temas terá uma palestra sobre mudanças climáticas, desmatamento e os índios da Amazônia. Entre os palestrantes ilustres contamos com a presença do escritor Thiago de Mello, Marcos Barros, Niro Higuchi, Márcio Souza, Frederico Arruda, Abrahim Baze e Daniel Munduruku. No último dia em Presidente Figueiredo ( 19/11/), será feita uma caminhada e a Leitura da “Carta da Floresta”, redigida pelos próprios escritores.
Segundo Tenório Telles, “O estudo, o debate e a troca de experiências, são os pressupostos necessários para a compreensão da realidade. A Amazônia pela sua complexidade e importância para o futuro da terra, ocupa o centro das discussões sobre a vida no planeta" Outras programações (Simpósio de Leituras, lançamentos de livros e palestras) serão feitas no Parque dos Bilhares, situado num dos locais mais privilegiado de Manaus.
Esta previsto a distribuição de 100 mil livros, 400 obras na internet, suplemento literário e Site permanente. E entre as presenças ilustres confirmadas, já contamos até agora com João Gilberto Noll, José Eduardo Agualusa, Alexei Bueno entre muitos outros. Teremos também, o prazer de contar com a presença de nossa querida overmana Graca Graúna.
Doroni Hilgenberg.

TEATRO AMAZONAS

O Magnífico Teatro Amazonas

Quando cheguei em Manaus, há uns 25 anos atrás, uma das primeiras coisas que fiz foi levar meus filhos para assistirem a uma peça no Teatro Amazonas. Lembro que estava passando
“O Fantasminha Pluft” mas pouca atenção dei à peça tão empolgada estava com as maravilhas no interior do Teatro Amazonas. Onde quer que olhasse havia uma obra primorosa, um detalhe especial, uma luminosidade fora do comum, que prendia minha atenção deixando-me maravilhada.
O Teatro Amazonas é o principal cartão postal da cidade de Manaus, esta localizado em frente a Praça São Sebastião, bem no coração da cidade e sua cúpula pode ser vista de longe. Foi construído pelos Barões da Borracha numa época em que o látex era a principal matéria prima da região e o cultivo da borracha enriqueceu muita gente, menos o caboclo seringueiro, chamado de soldado da borracha.
O primeiro projeto para a construção do Teatro Amazonas deu-se em 1.881, através do deputado Fernandes Junior, pois era preciso uma casa de espetáculo à altura dos barões da época que ansiavam por ostentar seu poder e queriam contratar famosas óperas de fora para se apresentar em plena selva. Mas só em 14 de fevereiro de 1.884 é que foi lançada a pedra fundamental daquele que viria a ser um dos mais belos monumentos artísticos do país. Após 12 anos de trabalhos exaustivos, todo em estilo “art nouveau”, o Teatro Amazonas foi inaugurado pela Companhia Lírica Italiana, em 31 de dezembro de 1.896 fazendo jus aos poderosos de uma época.Passaram-se 100 anos e depois de algumas reformas, em 27 de fevereiro de 1.996, o tenor José Carreras abriu as comemorações do centenário do Teatro Amazonas seguido de intensas apresentações e festividades.
O Teatro Amazonas é um dos mais bonitos do mundo, é todo pintado de uma cor rósea e sua cúpula é coberta por 36.000 (trinta e seis mil) telhas vitrificadas importadas da Europa. Esta cúpula, forma um tipo de mosaico, nas cores verde, amarela, azul e branca, que lembra a Bandeira do Brasil. O Teatro possui 3 andares e tem 700 lugares, sendo 250 em poltronas e 450 em camarotes, que são todos recobertos por um tecido de veludo vermelho.As pinturas do teto do Teatro foram feitas pelo artista Crispim do Amaral e reproduzem a visão da Torre Eiffel de Paris. Ao redor, as pinturas representam as artes, dança, tragédia, ópera e música. Em frente aos camarotes nobres, há 22 máscaras da tragédia grega representando Moliére , Shakespeare , Goethe, Mozart, Bethoven, Wagner e outros. O pano de boca do teatro, representa o “Encontro das Águas” entre os Rios Negro e o Solimões, formando o gigantesco Rio Amazonas e mostra Yara, a mãe d`água e os deuses que representam o rio. Para evitar danos nessa maravilhosa pintura, este pano sobe inteiro para o teto, sem precisar ser franzido ou enrolado.
O Salão Nobre do Teatro Amazonas foi decorado pelo artista Italiano Domenico de Angelis e contém pinturas com motivos regionais e estátuas de artistas famosos como o compositor Carlos Gomes e outros. A pintura do teto foi feita com uma técnica tão maravilhosa, que se tem a impressão que o personagem principal da pintura esta sempre olhando para a gente seja de que ângulo for que se aprecie o teto. O piso, é todo feito de madeira trabalhada na Europa, e ao todo são 12 mil peças montadas e encaixadas sem o auxílio de cola ou pregos. O lustre é todo feito em bronze francês e cristal italiano, é tão magnífico que há um mecanismo que permite que o lustre desça ao nível do chão para sua limpeza e manutenção. Na parte externa do Teatro, há grandes colunas e estatuas importadas da Inglaterra . Esta sempre aberto aos visitantes e possuí guias que falam Inglês, Francês, Espanhol e Alemão.
Não deixe de lado esta maravilha, seja você o próximo a conhecê-la.
Doroni Hilgenberg

terça-feira, 21 de abril de 2009

A TROCA


A TROCA

Desde pequeno Mário foi um menino levado, capeta mesmo, desses que levava surras de vara de marmelo mas não se emendava. Deixou os estudos pela metade e não parava em emprego algum. Quando começou a namorar, era uma procissão de garotas atrás dele que não tinha mais fim. Era namorador, beberrão, atrevido e metido a valentão. O pai ficava incomodado, pois se o garoto não tomasse jeito, não sabia o que podia acontecer no futuro.

E de repente, ele mudou. Encantou-se por uma garota cheia de charme. Moreninha, cabelos pretos e longos, bonita de corpo e com uns olhos tão pretos que pareciam duas jabuticabas brilhando mais que estrelas. E um dia eles casaram. E foram chegando os filhos um atrás do outro. Parecia a Mário, que ontem mesmo estava namorando e hoje já estava com 3 filhos para criar. Ângela já não tinha tempo para nada e ele se sentia jogado às baratas como costumava dizer, e sempre que bebia umas e outras, ficava nostálgico e birrento. Sim, porque Mário havia voltado a beber. Geralmente nos finais de semana, saía de casa sábado pela manhã e só voltava bem tarde da noite, e quando voltava.

Com o tempo suas saídas foram se intensificando, a bebedeira foi aumentando e ele cada vez mais praticando abusos com a família e com ele mesmo. Chegava bêbado e brigava com todo o mundo. Batia em Ângela e maltratava as crianças. Ângela gostava dele, mas não se conformava com os rumos que sua vida estava tomando. Mas, o que fazer se não estava preparada para nada e com aquela turminha era difícil arrumar um emprego que valesse a pena? E a vida continuava numa tristeza de morrer. Muitas vezes, altas horas da madrugada ou já de manhãzinha, alguém batia em sua casa para que fosse buscar o marido bêbado, que jazia em calçadas de bar ou mesmo na rua. E lá ia Ângela, aborrecida, maltratada, buscar seu fardo e tentar contornar a situação que já estava passando da conta. Um dia, em que Mário estava lúcido, Ângela expôs a situação e disse que não queria mais viver com ele, queria se separar, pegar uma pensão e ir morar bem longe dele. Já havia falado com a mãe, e esta havia concordado em recebê-la, pois era impossível a filha continuar naquela situação tão constrangedora.

Ao ouvir isso, Mário teve um acesso de fúria tão grande que voou para cima de Ângela com toda a raiva incontida. Homem ferido em seu ego, torna-se um cavalo. Ângela ficou toda machucada, com a cara inchada, um olho roxo além de ter quebrado um braço. Pior foi umas das meninas, que ao acudir a mãe, levou um empurrão tão grande que caiu escada abaixo, ficando também machucada. Os visinhos, ouvindo o barulho e já cansados das sacanagens de Mário, pois não era a primeira vez que batia na família, chamaram a policia. E foram todos para a delegacia, incluindo visinhos, família e filhos. Mário, ficou preso por pouco tempo, mas Ângela conseguiu a separação. Depois disso, Ângela arrumou um emprego e tudo foi melhorando em sua vida.

Já Mário, foi ficando cada vez pior, bebendo cada vez mais e se misturando com toda a espécie de gente que encontrava em seu caminho tão desestruturado. Breve se meteu em brigas, perdeu dentes, levou facadas, ficou sem emprego e viu sua vida ruir. Soube que as filhas já estavam se formando, uma delas já ia se casar e seu filho estava se preparando para o vestibular. E ele, e ele? A realidade caiu-lhe como um raio. Não era ninguém e jamais seria ninguém. Se continuasse a beber ia virar um desses mendigos dormindo ao relento e comendo restos feito um cachorro. Resolveu mudar. Mas para mudar de fato, tinha que ser longe da cidade, dos bares e das más amizades.

Domingo comprou o jornal. Abriu na página dos classificados e lá estava seu emprego:..
“Precisa-se de homem para cuidar de um sítio no quilometro trinta e tal...tratar pelo fone tal.”

E lá foi Mário todo lépido e prosa a procura de um novo começo de vida. Conseguiu! Gostava do sítio, havia paz e ele se controlava para não cair na tentação de andar quilômetros atrás de bebida. Um belo dia, apareceu no sítio uma mulher querendo comprar laranjas. Mário deu-lhe, não cobrou, e disse-lhe que quando quisesse mais era só vir buscar que tinha bastante. E ela sempre aparecia. Apareceu tanto que acabou ficando lá e sendo a companheira de Mário.

E a vida estava boa!

Mas tudo o que é bom dura pouco. Um dos antigos companheiros de bebedeira de Mário, não se sabe como, soube o seu endereço e começou a freqüentar a casa levando sempre uma garrafa de Pirassununga 51. E a garrafa ia rapidinho com os dois entretidos em contar histórias e fatos passados. Esse amigo passou a aparecer seguido e muitas vezes até pernoitava. As garrafas de pinga que antes eram só uma, passaram a ser duas ou três e as bebedeiras se intensificaram.

Numa tarde, já quase escurecendo, Pedro como era o nome do amigo de Mário, aparece lá montado num belo cavalo, que também não se sabe como conseguiu. Mário ficou louco pelo cavalo. Depois de terem bebido além da conta, e já sem saber mais o que estavam fazendo,
Mário disse a Pedro:
- Me vende esse cavalo?
E Pedro:
-Como vou vir aqui? a distância é grande...
E Mário engrossando a voz:
-Não sei, mas vende sim, vende sim...
E Pedro:
-Mas você não tem dinheiro
E Mário:
É verdade, mas tenho a Mara, vamos trocar?
E Pedro:
-O que?...a Mara?
E Mário:--É sim, deixa o cavalo e leva a Mara.
E Pedro, que já estava de olho em Mara:
-Negócio fechado. Mas manda vir já, disse ele. ( esperto!)
E Mário foi até o quarto e disse a Mara:
-Apronte-se mulher, pega umas roupas e vai com Pedro, não sei o que aconteceu, mas estão precisando dele e você precisa ir junto, pois vai ser necessária.
Atarantada, Mara põe umas vestes na sacola e segue Pedro até um ponto de ônibus bem distante sem questionar pois já o conhecia. Não sabia o que estava acontecendo e também não havia notado que Pedro tinha chegado com um belo cavalo.

Uma semana depois, Pedro volta ao sítio atrás de seu cavalo. Ao tomar conhecimento que fora trocada como um objeto, Mara havia fugido dele que agora estava sem mulher e sem cavalo. Mário, primeiramente pensou em discutir e não devolver o cavalo, mas que diacho, o bicho não queria saber dele. Cada vez que ele queria montá-lo, o cavalo relinchava feito besta e se escoiceava feito doido, não deixando que chegasse nem perto de si, quanto mais montá-lo. E então Mário deixou que Pedro levasse seu cavalo com a condição que encontrasse Mara e a trouxesse de volta. E Pedro procurou, procurou tanto, que um belo dia acabou encontrando-a. Mas... quem disse que a devolveu?

Moral: O castigo veio a galope.

Doroni Hilgenberg 02-07-2008
Sobre a obra
Esta é uma história de histórias, contada por outros e adaptada por mim. Tal como uma colcha de retalhos, fui juntando os detalhes e deu no que deu.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A LENDA DO BOTO

O BOTO

A LENDA

Na mitologia Amazônica, encontramos o Boto Rosa, que tem o poder de emergir das águas do rio a noite, e se transformar num belo homem, para seduzir as muheres que se sentem atraídas pelo seu estranho fascínio. Apresenta-se sempre de terno branco e traz na cabeça um chapéu também branco para ocultar os orifícios que estão em sua cabeça e pelos quais respira. A inexistência no Brasil de dados mais concretos até o século XVIII, faz supor que a lenda seja de origem branca e mestiça, com projeções nas culturas indígenas e ribeirinhas.


A lenda do boto é no mínimo interessante. Ela está ligada aos ribeirinhos, às festas juninas, aos bailes caseiros e populares, quando então, todos se encontram para as festividades e as moças colocam seus trajes mais bonitos, se enfeitam e aproveitam para namorar enquanto seus pais conversam distraídos e alheios a tudo. Nessas noites, geralmente de luar, o Boto aparece em forma de um homem alto, bonito, com um chapelão na cabeça e todo vestido de branco. Gentil e cavalheiro, todas as moças ficam encantadas e se deixam levar por sua beleza. E ele então, escolhe a mais bonita e a leva para a praia ou a beira do rio. E ali, tece e acontece, e o amor vinga de uma maneira, simples e direta, mas cheia de encanto e magia. Só que depois, some e nunca mais é visto pelas redondezas, e a garota carrega no ventre o fruto de uma noite de encantamento sem no entanto mostrar-se arrependida do ato consumado. Dizem que geralmente nasce um menino, o filho do Boto.


Deixo aqui, um poema de um grande amigo, poeta e trovador.


EU, O BOTO

Eu venho de um mundo
que tu não conheces;
--do onde, do quando,
o nunca, talvez...

Eu venho de um rio
perdido em teus sonhos,
um rio insondável
que corre em silêncio
entre o ser e o não ser.

Eu venho de um tempo
que os homens não medem,
nenhum calendário
registra os meus dias.
sou filho das ondas
que gemem na praia,
sou feito de sombras
de luz, de luar
e trago em meu rosto
mandinga e mistério
e guardo em meus olhos
funduras de um rio.

Cuidado, cabocla!
cuidado comigo
que eu sou sempre tudo
que anseias que eu seja:
--teus ais, teus segredos
tua febre e teu cio...

Se em noites de lua
sentires insônia
a fome de sexo
queimar tuas estranhas,
a sede de beijos
tua boca secar
e em brasa teu
corpo meu corpo exigir,
contigo estarei
na rede de encanto
cativo nas malhas
da teia do amor.

E quando teus olhos
fitarem meus olhos,
e quando meus lábios
teus lábios tocarem,
e quando meus braços
laçarem o teu
e quando meu ser
em teu ser penetrar
só então saberás
quem sou e a que vim.

E assim que a semente
do amor, do desejo,
vingar em seu ventre
gerando outro ser,
não mais estarei
contigo. Somente
a minha lembrança
permanecerá
boiando nas águas,
barrentas, confusas
de tua memória
cansada, febril...

--Foi sonho? -- foi fato
ninguém saberá!...

(Antonio Juraci Siqueira- autor do poema )

O SER EM SI

O Boto, foi descoberto e estudado cientificamente por Rodriguês Ferreira ( 1.790), e por Henry Walter Bates, um Inglês que permaneceu 11 anos fazendo pesquisa na região Amazônica. O cetáceo, é um mamífero completamente aquático que habita os rios do norte do Brasil. Possui uma cabeça grande, bico dentado e corpo afilado. É quase desprovido de pelos, possui grandes nadadeiras dianteiras, duas mamas em posição posterior, uma cauda que se finaliza em uma nadadeira longa e horizontal e um sistema de sonar sotisficado, localizado numa saliência da cabeça que emite ondas sonoras. Ao nascer pesa cerca de 7 kilos e chega a pesar até 150 kilos quando adulto.

O Boto é simbolo de sedução e energia vital porque os órgãos sexuais desse animal são muito parecidos com o dos humanos, e por isso a razão das lendas envolvendo os botos. Atualmente, o Boto encontra-se em extinção porque o homem atribuí-lhe poderes mágicos e usa seus atributos para fabricação de remédios, amuletos e rituais.

Segundo Vera da Silva, Biologa do INPA, na reserva Mamirauá, a cerca de 530 Km de Manaus, onde se encontra uma das maiores concentrações de boto cor de rosa, vem sendo registrada uma queda de 10% ao ano da população desses animais, e isso deve-se em grande parte a construção de hidrelétricas na Bacia do Amazonas, que isolam os grupos dos botos cor de rosa e dificultam a sua reprodução. Os Botos, existem há mais de 5 milhões de anos, eles nadaram através do Oceano Atlântico e chegaram até o caudaloso Rio Amazonas, encantando a todos que deles se aproximam.

Doroni Hilgenberg ( texto)
Antonio Juraci siqueira ( Poema)

A LENDA DA VITÓRIA RÉGIA

VITÓRIA RÉGIA
"ÍNDIA SANGUE TUPI
TENS O PERFUME DA FLOR"...


A LENDA

Conta a lenda, que uma bela e jovem índia da tribo Tupi-Guarani, chamada Naiá, queria muito ser estrela. Ela acreditava que a lua escolhia as moças mais lindas para serem transformadas em estrelas, e para isso, procurava alcançar a lua, escalando colinas e mais colinas, sem contudo poder alcança-la. Uma noite, vendo a lua refletida nas águas de um lago, atirou-se nele para nunca mais voltar. A lua, condoída da jovem índia, transformou seu corpo numa formosa planta que é a exótica Vitória Régia ( estrela das águas) , cujo perfume recorda os longos cabelos da bela índia.

A VERDADE

Na verdade, a Vitória Régia é uma planta aquática da família das ninfeáceas, encontrada muito na flora Amazônica, principalmente nas várzeas, onde são vistas flutuando nos lagos de pouca profundidade e sem muita correnteza. Sua gigante folha verde chega a medir dois metros de diâmetro e tem as suas margens levantadas até quinze centimetros. Chega a pesar até 45 kg. e serve de pouso a muitas aves cansadas depois de uma longa jornada. Flutuam nos lagos como uma enorme bandeja verde, trazendo em sua extremidade, como uma oferenda, uma única, bonita e exótica flor que se abre no crepúsculo vespertino e fecha-se no crepúsculo matutino. Essa for é muito aromática e tem de 25 a 35 cm de diâmetro quando aberta. Suas raízes fixam-se no fundo das águas e suas folhas e flores, são revestidas de espinhos na parte inferior, numa defesa natural contra a ação predadora dos peixes.Além dos lagos da Amazônia, a Vitória Régia pode er encontrada também em Mato Grosso e nas Guianas. É cultivada como raridade nos Jardins Botânicos de todo o mundo, devido ao tamanho descomunal de suas folhas e flores. Dizem que um naturalista Inglês, querendo homenagear a sua soberana, a Rainha Vitória, foi quem deu o nome a esta flor de Vitória Régia.

Doroni Hilgenberg
Sobre a obra
Este texto é um misto de lenda e verdade, e eu o juntei para ficar
mais atraente e facilitar o conhecimento.

O ENCONTRO DAS ÁGUAS

Rio Negro e Rio Solimões
O ENCONTRO DAS ÁGUAS


É O IROSO AMAZONAS QUE POTENTE
ENCONTRA O TAPAJÓS NA IMENSIDADE
E O TENTA DOMINAR EM LUTA INGENTE
SEM QUE O POSSA VENCER TENDO VONTADE.
(P.Damasceno- Santarém)

Eu pensava que o "Encontro das Águas" só se desse entre o Rio Negro e o Rio Solimões, vejo que estava enganada, pois como versa o amigo acima, o " Encontro das Águas" também se dá entre o Rio Amazonas e o Rio Tapajós. Só que este eu não conheço, mas deve ser um fenômeno parecido com o que se dá por aqui. O Encontro das Águas é um dos pontos turísticos mais atraentes para quem quer conhecer os encantos naturais do Amazonas, e sua singular beleza é contada em verso e prosa. O Rio Negro, com suas águas escuras como o próprio nome indica, corre a cerca de 2 km/h com uma temperatura de 22*c, e a 18 Km a partir do porto flutuante de Manaus, se encontra com o Rio Solimões, que, com suas águas amarelas e barrentas, vem correndo de 4 a 6 km/h e a 28*c., provocando o admirável e colossal " Encontro das Águas" que quem o vê, jamais esquece.


Quando o Rio Negro desemboca no Solimões, as águas ficam aparentemente repressadas contra a margem, percorrendo quilômetros e mais quilômetros rio abaixo, numa linha divisória meio torta traçada entre eles, que por vezes tende para o Rio Solimões e outras para o Rio Negro, sem que haja mudança das águas entre eles, só mesmo uma súbita mudança de cor.


Nota-se distintamente, que as águas tão logo se encontram, se envolvem como num abraço amigo, e voltam borbulhantes cada qual para o seu lado, até que o volume maior das águas amarelas e barrentas do Rio Solimões, engolem totalmente as águas escuras do Rio Negro, e os rios então, correm juntos, perdendo a sua identidade e formando o lendário e fenomenal Amazonas, dono absoluto da imensidão no infinito.


Doroni Hilgenberg

PREMONIÇÃO

As vezes a força do pensamento faz acontecer
PREMONIÇÃO

Era noite, a garota havia acabado de sair do colégio e estava sozinha. Seu irmão que a acompanhava sempre, havia matado o segundo tempo de aula e ido ao cinema com amigos. Ja´era dez e meia e a noite estava escura como breu. No céu não havia uma estrela sequer e até a lua havia desaparecido. Podia se esperar que a qualquer hora cairia aquele aguaceiro. A garota segue seu caminho até o ponto do ônibus meio assustada, pois lhe parece que olhos misteriosos e seres malígnos a espreitam em cada canto. De repente surge do nada, um motoqueiro que lhe oferece carona. Ela diz não com a cabeça e assustada continua a caminhada. Ele não se dá por vencido, aborda-a na próxima esquina e força a barra. Ela corre até o ponto e pega o ônibus que já estava à espera. Só se sente segura após passar a roleta. Senta-se na frente e tenta acalmar seu coração, enquanto o ônibus parte, rumo a seu destino.


Na metade do pecurso, a garota vê estarrecida, o mesmo motoqueiro ultrapassa-lo. Em cada parada que o ônibus fazia ele ficava a espreita para ver se ela descia. O medo voltou e seu coração batia acelerado. A quem recorrer? Olhou para todas as pessoas do ônibus mas não havia um conhecido sequer. Mentalmente pediu proteção divina, mas sentiu que não bastava. Àquelas horas, Deus devia estar ajudando milhares de criaturas em situações como a dela. E, ele sozinho não vence, é preciso ajudá-lo e ajudar-se. Assim pensando, transmitiu um pensamento a seu pai para que ele viesse busca-la na parada do ônibus. Sabia que àquela hora seu pai já deveria estar dormindo ( ainda mais sendo inverno), mas mesmo assim lançou um pensamento com tanta e tal intensidade que em casa seu pai acordou sobressaltado. Toc...Toc...Toc...Toc...


Naquela época as sandálias tinham um saltinho de metal que produzia um ruído característico contra o piso de cimento. E foi com esse barulhinho que seu pai acordou. Ficou alerta pois não viu a filha abrir a porta ou entrar em casa. Novamente escutou: Toc...Toc...Toc.., sem no entanto ouvi-la entrar. Levanta-se rápido, põe um sobretudo e corre para fora, mas naquela escuridão não enxergou nada. Então, um pensamento lhe ocorre:- " ela chega, e não chega, deve estar em perigo". Rápido, pega uma lanterna e um facão e corre ao encontro da filha.


No momento em que ele chega na parada, o ônibus também vem chegando e a garota vê por entre a luminosidade dos faróis, a abençoada figura de seu pai. Ele havia captado seu aviso... Quentes e silenciosas lágrimas de alívio e de gratidão banham seu rosto, e ela agradece à Deus numa prece silênciosa e pura. Desce do ônibus correndo para os braços do seu pai e logo a seguir surge o motoqueiro numa vagarosidade assustadora. Seu pai pressentindo o perigo, ergue o facão numa atitude ameaçadora e urra como um leão defendendo sua cria. O motoqueiro segue seu caminho numa disparada louca, perdendo-se na escuridão da noite e se acidentando na primeira vala do caminho incerto.
Doroni Hilgenberg

sobre a obra:

Este conto é dedicado ao meu saudoso, querido e inesquecível pai , Guilherme Holmm Dias, companheiro de travessuras, caminhadas e pescarias.

PARINTINS E A MAGIA DOS BUMBÁS

Parintins-2.008 - Boi Garantido
PARINTINS E A MAGIA DOS BUMBÁS

Parinins é uma cidadezinha localizada à margem esquerda do Rio Amazonas, na Ilha de Tupinambarana, e seu acesso se dá somente por via aérea ou fluvial. Por si só, já é uma cidade cheia de graça e beleza devido aos seus inumeros atrativos naturais e ecológicos, sendo o principal deles o Lago Macuricanã, que possui diversos peixes e aves exóticas. Mas o que coloca Parintins no topo e a faz reconhecida mundialmente é seu magnífico Festival Folclórico realizado sempre nos dias 28, 29 e 30 de Junho.


Nessa época, Parintins vibra e se enche de luz e cores num espetáculo de intensa magia, quando são apresentados os Bumbás Garantido e Caprichoso, cujo duelo é uma das mais belas manifestações folclóricas do Brasil. Pessoas de todo o canto, inclusive um bom tanto de turistas estrangeiros, desembarcam em Parintins, para apreciar a apresentação dos Bumbás, ou seja a dança do boi. Para quem não sabe, o Bumbá é um boi confeccionado de materias primas, com uma bonita estrela ou coração na testa, manipulado por um homem forte, (tripa do boi) com disposição para pular e dançar e que sempre esta à frente do espetáculo, juntamente com uma cunhã poranga ( india) ou a sinhazinha da fazenda ( filha do fazendeiro).


O Festival é realizado no Centro Cultural de Parintins, o popular " Bumbódromo", com capacidade para 40 mil pessoas. Ali, durante três noites seguidas, os três mil ou mais, componentes de cada boi se apresentam por tres horas, dançando e cantando as belas toadas, ao som de uma bateria com mais de 300 componentes, que dão o melhor de si e fazem o possível para ser o "eleito do povo". A beleza desse espetáculo é realçada pela intensa magia dos rituais, onde predominam os velhos cultos indigenas, as crendices da região e dos caboclos ribeirinhos. Adereços indigenas e matérias primas regionais são elementos muito usados, mas destacam-se também os magníficos carros alegóricos e as luxuosas indumentarias das sinhazinhas da fazenda, além do encanto natural das cunhãs porangas.


Os componentes do Boi Garantido, apresentam-se nas cores vermelha e branca, enquanto os do Caprichoso, nas cores azul e branca; ambos defensores da fauna, da flora e das tribos indígenas. Na época do festival, a cidade inteira vibra, torce e divide-se em duas cores, conforme o boi de sua preferência. Há uma intensa rivalidade entre os Bumbás, que chega até o fanatismo, mas predomina a consideração e o respeito pelo oponente, pois quando um Boi esta se apresentando, a torcida adeversária cala-se num mutismo total, ficando proibida de cantar, vaiar ou manifestar-se de qualquer modo.


O Bumbódromo, nessa ocasião é dividido em três partes, ou seja, uma para os torcedores do garantido, outra para os visitantes neutros, e outra ainda, para os torcedores do caprichoso. Os julgadores do festival são quase sempre pessoas de fora do Amazonas e não há favoritismo, ganha sempre o melhor, embora não seja fácil a escolha. Há um intenso policiamento no local para evitar brigas e confusões tão comuns nos grandes eventos. Vale a pena assistir a esse espetáculo. Não perca o próximo!

Doroni Hilgenberg
Sobre a Obra
texto editado no Overmundo no dia 20/06/2.008
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