terça-feira, 8 de setembro de 2009

TERRA CAÍDA


TERRA CAÍDA


O Caboclo Sebastião, que todos conheciam como Sabá, era um simples pescador mas vivia feliz da vida e nada lhe faltava. A vida no meio das matas era boa, tinha uma pequena casinha, uma mulher e quatro filhos sadios. O rio lhe dava os peixes de graça, as matas lhe davam frutos em abundância e da rocinha do fundo do quintal ele colhia o suficiente para comer. De vez em quando saia atrás de uma jacaretinga ou de um tracajá, para fazer um prato domingueiro. Quando as crianças crescessem mais um pouco, ele mandaria para casa do irmão para que aprendessem a ler e escrever, pois que caboclo não carece de muita instrução. Todo o seu prazer se encontra em contato com a natureza, na vida livre, onde todo dia se descobre uma alegria diferente, seja com os trinados dos passarinhos, duendes da floresta, botos, iaras, sereias e até mesmo o seu próprio canto.
E assim, Sabá ia levando a vida e agradecendo a Deus por toda aquela maravilha que se descortinava ante seus olhos. Nos fins de semana, saia de canoa, madrugadinha ainda, a pescar com o clarão da lua, a iluminar-lhe a vida e o caminho. Como é grandioso este rio, pensava ele, e este céu, a lua e as estrelas, que envolvem a todos numa intensa magia e numa paz imorredoura . Deus é justo pensava ele, dá a cada um o que merece. Depois, ele vendia na feira todo o produto e seu trabalho e voltava para casa com mantimentos para a semana, não esquecendo de alguns bombons para as crianças. Quando o dinheiro sobrava, comprava para a mulher um corte de chita ou uma água de colônia,e ela ficava feliz. Um dia, numa dessas viagens, ele trouxe consigo umas galinhas e um galo de raça. Construiu um galinheiro bem longe de casa, quase junto ao rio, para que o mau cheiro não os importunasse. Com o tempo, as galinhas botaram, chocaram e a população de galináceos cresceu. Tudo corria bem, melhor que quando ainda moravam num dos Igarapés de Manaus, e em épocas de enchentes ficava quase louco, pois perdia tudo o que possuía.
Mas uma noite, Sabá acorda assustado com os latidos insistentes e ameaçadores de seu cão Tupã. Rápido, levanta-se e corre a tempo de ver o galinheiro flutuando já longe, ao sabor da correnteza num enorme pedaço de Terra Caída. Num repente, pensa em ir atrás com a canoa e salvar as galinhas, mas desiste que a correnteza em certos trechos é braba e vai longe. Lembrou-se então da choca, que por sorte, havia retirado do galinheiro e colocado em baixo da casa. Bem, pensou ele: “ breve terei meus frangos outra vez”, Voltou para sua rede e dormiu o resto da noite como se nada de mal tivesse acontecido. E de fato, nada de mau acontecera.
Moral: "O pouco com Deus é muito “
sobre a obra : Conto Regional
•Terra Caída: - São grandes pedaços de terra arrancados de barrancos à margem dos rios,( pela força das águas) levando consigo, árvores, arbustos, capim e moradias, que são arrastados pelas correntes, como pequenas ilhas flutuantes.
•Tracajá: - Uma espécie de tartaruga ( um manjar dos deuses)
•Jacaretinga: - Filhote de jacaré ( carne deliciosa)

4 comentários:

  1. Sabá personifica
    o brasileiro
    Cai e levanta e se não levanta
    pensa e crê que
    vai levantar ...

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  2. CADA Contrariedade da vida, exige uma resposta pronta e imediata!
    BEIJO DE LUSIBERO

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  3. Conto que retrata fielmente a vida de nossos ribeirinhos! Obrigada por nos apresentá-los!
    Um carinhoso abraço, amiga!
    Luísa

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  4. DORONI: que bom seria se soubéssemos e pudéssemos contentar-nos com o pouco que DEUS pôs à nossa disposição! Infelizmente, com esta sociedade consumista, já não nos contentamos com "a choca"...
    Beijos de lusibero

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