DANDO O TROCO
Já fazia tempo que eu vivia aborrecida com meu marido. Isto porque ele chegava tarde em casa e não levava a chave para que pudesse entrar quando bem entendesse. Não que voltasse de madrugada, isso não, mas sempre chegava depois das 10 horas da noite. E aquilo já estava me cansando, afinal, na época eu tinha três filhos pequenos, que estudavam pela manhã e precisava acordar cedo para despacha-los para o colégio. Mas meu marido parecia pouco estar se importando com o meu aborrecimento, e embora eu brigasse e soltasse umas cobras e lagartos,
acabávamos nos acertando na cama e a chave continuava sempre na porta da sala.
Eu colocava as crianças para dormir e ficava naquela espera enervante até ele chegar, e quando chegava era quase sempre uma briga pelos mesmos motivos, a demora e o medo que eu tinha de que algo pudesse lhe acontecer. Mas ele nem ligava... abusante!!! Gostava que eu ficasse esperando-o para esquentar-lhe o jantar, fazer-lhe um café fresquinho, e depois disso, já era meia noite. E ainda dizia que eu era ciumenta.
E eu respondia indignada:
--Eu ciumenta? Ora, qualquer dia você me paga!
Uma bela noite, eu não agüentei mais... Fechei a casa, liguei o ar condicionado (que fazia um barulho enorme) e fui dormir. Pensei comigo que se não escutasse ele bater, as crianças escutariam e abririam a porta para ele. E, no horário de sempre, ele chega. Bate aqui, bate ali e nada. As crianças com o sono pesado e o ar condicionado ligado, não o ouviram bater, ou se ouviram, não se incomodaram com quem quer que fosse que estivesse batendo àquela hora da noite. E eu, como estava disposta a castigá-lo, também não ouvi nada, estava dormindo o sono dos justos. E ele bateu nas portas e bateu nas janelas e nada de conseguir entrar.
Cansado e com medo que os vizinhos viessem ver o porquê daquela barulheira toda, ele desistiu. Cedinho, quando acordei, e abri a porta da sala, lá estava ele, sentado na cadeira de balanço na varanda, com uma cara mais azeda que limão, olhos inchados e todo dolorido, e eu, sorrindo de orelha à orelha, sequer me importei com o olhar atravessado que ganhei pelo resto da semana, mas a chave mudou de lugar. Até que enfim, tivera a coragem de aprontar também..
Doroni Hilgenberg
E foi um troco bem dado, né? Gostei disso.
ResponderExcluirBeijos.
Pois é Sonia
ResponderExcluirde vez em quando a gente precisa tomar atitudes drásticas para ser entendida
bjs